
Isabel GonçalvesFazer um intercâmbio é o tipo de experiência que muda a vida, mas também o extrato bancário. Entre novas culturas, passeios e boletos internacionais, é fácil perder a noção de quanto vale o próprio dinheiro. E por mais que ninguém queira admitir, o aprendizado financeiro vem junto com o choque cultural.
Pra mim foi assim, a primeira viagem internacional, a sensação de “cidadão do mundo” e o impulso de pagar tudo no cartão brasileiro. O café no aeroporto parecia inofensivo, até a fatura chegar com IOF, variação cambial e conversões nada amigáveis. Foi ali que eu (e talvez você também) percebi que a euforia de gastar em dólar tem um preço alto em real.
A resposta mais honesta é: depende. Depende do país e da cidade, da duração, do tipo de curso, da instituição de ensino e, principalmente, do seu estilo de vida. Mas uma coisa é certa, o valor vai muito além do preço das passagens e das mensalidades.
De forma prática, um intercâmbio de um mês em países como Canadá, Irlanda e Estados Unidos pode variar entre R$15 mil e R$50 mil. Já considerando passagens, hospedagem, alimentação, despesas básicas e um curso de inglês de curta duração, por exemplo.
Programas mais longos, de seis meses a um ano, pode ser de graduação, pós-graduação ou até uma parte do ensino médio, podem ultrapassar os R$100 mil. Isso claro, sem contar com nenhuma bolsa de estudos ou auxílio financeiro. Por isso, a melhor opção é pesquisar muito, comparar opções e definir bem o que é mais importante para você.
A ideia de fazer intercâmbio sem gastar nada parece um sonho e, em parte, é. Na prática, “100% gratuito” é raro, mas existem formas legítimas de reduzir (ou eliminar) quase todos os custos, principalmente se você estiver disposto a dedicar tempo e trabalho em busca de oportunidades.
A opção mais comum são as bolsas de estudo. Diversos governos e instituições oferecem programas que cobrem desde o curso até a moradia e o seguro saúde. Cada um tem suas exigências. No Brasil, algumas universidades públicas também mantêm parcerias internacionais que permitem intercâmbio com custo quase zero, inclusive com auxílio financeiro mensal.
Mas é importante entender: mesmo nas opções “gratuitas”, há custos indiretos inevitáveis, como o passaporte, o visto e as passagens. A chave da redução dos custos do intercâmbio está no planejamento e na pesquisa.
Parece óbvio, mas muita gente não compara as opções de agências, escolas e destinos antes de embarcar. Isso pode acabar gerando um custo alto em uma experiência que nem vai ser tão legal assim (e você só vai descobrir com o boleto pago).
Saber o custo médio de vida do destino é essencial. Além disso, é importante planejar o quanto você pode gastar em cada coisa no intercâmbio. Uma sugestão é separar os gastos em 4 categorias:
O site Numbeo e grupos de brasileiros no exterior são ótimas fontes. Saber quanto custa o transporte, a alimentação e o lazer te ajuda a montar um orçamento realista e evita sustos.
Essa é uma das frases mais repetidas entre intercambistas. Eu mesma comecei convertendo tudo e nada parecia valer a pena. Mas, do meio pro final da viagem, relaxei. Parei de converter e comecei a pensar em dólar.
O problema é que, na prática, eu ainda estava pagando em reais. E essa desconexão é o que faz muita gente perder o controle. Quando você começa a pensar “em outra moeda”, corre o risco de achar que está tudo mais barato do que realmente está. O segredo está no equilíbrio: converter o suficiente para ter noção do custo, mas sem transformar cada escolha em uma crise. Não é sobre se privar, e sim sobre fazer escolhas conscientes.
Economizar fora do país não é só sobre gastar menos, é sobre gastar melhor. E algumas estratégias simples podem fazer toda a diferença no orçamento e na experiência.
Antes de embarcar, pesquise opções como Inter Global Account, C6 Global, Wise ou Nomad. Essas contas permitem converter reais em moeda estrangeira com taxas menores e fazer compras direto em dólar ou euro. Assim, você evita o IOF super caro do cartão e as surpresas da fatura.
Comer fora é uma das maiores armadilhas financeiras. Apesar de conhecer novos restaurantes ser uma grande parte da viagem internacional, um jantar rápido pode custar o equivalente a uma semana de compras no mercado.
Por isso aqui vão duas dicas: viva como um nativo e vá atrás de lugares bons e baratos que só quem é local conhece. Outra ideia é montar suas marmitas e levar lanches durante os dias de aula. Além de economizar, você vai aprender a lidar com o próprio dinheiro e a se virar na cozinha.
Comprar lembrancinhas e roupas novas parece irresistível, mas essas compras são as que mais pesam no fim da viagem. Experiências, por outro lado, têm valor emocional e, muitas vezes, custam menos.
Um passeio a pé, um museu gratuito ou um piquenique no parque rendem memórias muito mais duradouras. O importante é não atrelar sua diversão a passeios caros “pega turista”.
Não deixe de usar seu desconto de estudante nas passagens de transporte, entrada de cinema e até nos restaurantes. Além disso, mergulhe nos inúmeros sites de cupons e aproveite.
Antes de comprar algo, pergunte: “Isso vai me fazer feliz hoje? E daqui a um ano?”.
Se a resposta for “sim” para os dois, vá em frente. Mas se o “não” aparecer na segunda pergunta, talvez seja hora de repensar. Essa é uma forma prática de diferenciar o que é essencial do que é passageiro.
Ninguém volta de um intercâmbio igual, especialmente na forma de lidar com o dinheiro. Quando fiz intercâmbio descobri que gastar faz parte da experiência, mas gastar com propósito muda tudo. Parei de ver o dinheiro como um inimigo das experiências, e passei a usá-lo com consciência e mais inteligência.
No fim, percebi que o verdadeiro aprendizado do intercâmbio não veio das aulas de inglês, e sim dos boletos. O dinheiro que gastei me ensinou mais sobre prioridades, equilíbrio e escolha do que qualquer professor poderia ensinar. Porque o saldo da conta pode até ir embora, mas o que você viveu (e aprendeu) fica pra sempre.