
Isabel GonçalvesDona Maria, 72 anos, aposentada, café coado no coador de pano e aquele pãozinho com manteiga na mesa. Ela abre o extrato do benefício do INSS e leva um susto: o valor caiu menor do que de costume. Pensou logo: “será que a padaria aumentou de novo ou fui eu que perdi alguma conta?”.
Depois de muito olhar e reler, percebeu descontos que nunca tinha autorizado. Foi atrás, contestou e pediu reembolso. Mas, em vez de solução, o que encontrou foram obstáculos. Ligações suspeitas, promessas de empréstimos milagrosos e aquela sensação de estar em um labirinto. Essa confusão não aconteceu só com Dona Maria, milhões de aposentados e pensionistas passam pelo mesmo.
Então é aqui que começa a novela do INSS: fraudes bilionárias, monopólio de pagamento, polêmicas com bancos e financeiras… e, claro, muito aperto no bolso de quem já conta cada centavo.
Em abril de 2025, o Brasil acordou com um escândalo: a Polícia Federal deflagrou a Operação Sem Desconto, revelando um golpe bilionário dentro do INSS.
O esquema era o seguinte: associações fantasmas ou sem autorização inseriam descontos diretamente na folha de pagamento dos aposentados. Sem pedir autorização, sem contrato, sem nada. Só a surpresa no extrato. Resultado? Mais de 5 milhões de beneficiários tiveram seus pagamentos reduzidos.
Então, para tentar reparar o estrago, uma Medida Provisória promete devolver R$3,31 bilhões aos prejudicados. Mas como tudo no Brasil, o caminho não é exatamente rápido nem fácil.
O processo é simples:
Para quem não tem familiaridade com celular ou computador, também dá para ligar na Central 135 ou ir presencialmente a uma agência do INSS. Ah, e depois de contestar, ainda é preciso comparecer a uma agência dos Correios para aderir à proposta de reembolso. Sim, seu pai ou sua avó tem que ficar perambulando pela cidade em busca do reembolso.
Parece burocrático? É porque é. Mas os números mostram que, apesar da maratona, o processo está andando: mais de 4 milhões de pedidos de contestação já foram feitos. Desses, 1,6 milhão de beneficiários receberam cerca de R$1 bilhão somados em reembolsos.
E atenção: quem quiser contestar ainda tem até 14 de novembro de 2025.
Por isso, se você recebe o benefício, precisa estar sempre de olho. A primeira pergunta é: você já conferiu seu extrato hoje?
No aplicativo ou site Meu INSS, dá para verificar todos os descontos. E é aí que entram os sinais de alerta:
Encontrou algo estranho? Melhor contestar logo. Afinal, como diz o ditado: “o olho do dono é que engorda o gado” ou, no caso, garante que o benefício não saia pela janela.
Se você recebe aposentadoria ou pensão, todo mês tem que ficar de olho no extrato do INSS. É lá que vão aparecer possíveis descontos de créditos consignados ou de associações indevidas.
O detalhe é que quem gerencia essa operação bilionária não é o aposentado. Desde 2010, o INSS faz leilões a cada cinco anos. A instituição financeira ou banco que dá o maior lance leva o direito de pagar os beneficiários. E foi aí que a confusão ganhou mais um capítulo.
Em outubro de 2024, no último leilão, a Crefisa arrematou 25 dos 26 lotes de pagamento do INSS. Traduzindo: quase todos os novos aposentados do Brasil precisariam receber seus benefícios pela financeira.
Mas a Crefisa não é um “bancão” tradicional, cheio de agências, caixas eletrônicos e atendimento estruturado. É uma instituição conhecida justamente por atuar no mercado de empréstimos. E aí começaram as dores de cabeça:
Não demorou para Procons, OAB e até a ouvidoria do INSS serem acionados. Resultado: contrato cancelado. Hoje, quem assumiu a maioria dos lotes foi o Banco Mercantil, que ficou com 21 dos 25 que eram da Crefisa, isso significa que os novos pagamentos serão feitos por lá. Pra quem já abriu a conta na Crefisa para receber o dinheiro e quiser pular fora, pode pedir portabilidade para outro banco de sua preferência (também através do site ou aplicativo).
Além dos bilhões fraudados com descontos indevidos aos segurados e dos prejuízos impostos pela Crefisa aos pensionistas do INSS, o crédito consignado também entrou na berlinda.
Esse tipo de empréstimo funciona assim: aposentados e pensionistas do INSS pegam dinheiro emprestado e pagam as parcelas direto no benefício, antes mesmo de o valor cair na conta. Prático? Sim. Arriscado? Também.
O problema é que, junto da facilidade, vieram as ofertas excessivas. Os aposentados estão cansados de receber ligações a qualquer hora, promessas de crédito rápido e propostas milagrosas. Quem nunca atendeu o telefone e ouviu: “É a sua chance de colocar dinheiro no bolso hoje mesmo, sem burocracia!”? Pois é.
Para tentar frear esse assédio, o INSS proibiu recentemente que 8 instituições financeiras oferecessem crédito consignado. O motivo? Elas não tinham implantado o “não perturbe”, ferramenta que bloqueia ligações indesejadas. Pode parecer detalhe, mas faz diferença. Afinal, quando o telefone toca sem parar oferecendo empréstimo, até o mais desconfiado pode acabar caindo em uma cilada.
O escândalo do INSS mostrou que, quando o assunto é dinheiro público e benefícios previdenciários, nunca faltam enredos dignos de novela. Fraude bilionária, monopólio da Crefisa, troca para o Mercantil, crédito consignado na mira… parece até roteiro pronto para série de streaming.
Mas por trás do humor e da confusão, está a realidade: milhões de aposentados e pensionistas que dependem desse dinheiro para sobreviver. Cada desconto indevido, cada burocracia a mais, cada ligação oferecendo empréstimo afeta diretamente o bolso e a vida dessas pessoas.
A boa notícia é que parte dos problemas já começa a ser resolvida, com reembolsos pagos e medidas para conter abusos. A má notícia? Ainda não dá pra confiar que o INSS vai ser o xerife do seu benefício, que vai cuidar da sua conta e proteger a sua aposentadoria ou pensão contra os abutres que continuam tentando roubar o pobre coitado do brasileiro.