
Alexia DinizJoão, motoboy das antigas, já se acostumou a empurrar a motoca mais do que deveria. A cada arrancada, sai tanta fumaça que parece até estar inaugurando uma nova churrascaria. De repente, ele abre o celular e vê: “Governo lança crédito especial para comprar moto elétrica”. O coração dispara: “É agora que eu viro Tesla das entregas”.
Mas calma, João. Até porque se tem uma coisa que brasileiro aprende cedo é que, quando o governo fala em “crédito especial”, por isso é bom conferir a letrinha miúda. Spoiler: a conta pode não fechar tão fácil assim.
Em junho de 2025, Lula anunciou um programa para financiar motos elétricas para entregadores de aplicativo. A ideia é dar crédito com juros “mais baixos” e prazo “mais longo”.
No discurso, é uma tacada tripla:
Parece comercial de margarina, né? Todo mundo feliz na foto. Só que o problema não está na foto, e sim na fatura.
O público-alvo são entregadores de aplicativo, tanto os que têm CNPJ quanto os que só rodam na informalidade. Nesse sentido, o governo disse que os bancos públicos vão oferecer o crédito.
O problema é que, aí já dá para imaginar: fila, carimbo, declaração, comprovante, autenticação em cartório… Enquanto isso, o motoboy continua rodando com a moto que só anda se tiver fé.
Por isso, se os bancos privados não entrarem no jogo, o programa vira mais um daqueles que existem “no papel”, mas não chegam na vida real de quem precisa de rapidez para rodar.
Porque o banco não é ONG. O setor já reclamou de duas coisas:
Por fim, um empresário do setor resumiu: “o crédito precisa ser para todo tipo de moto”. E ele não está errado. Porque forçar todo mundo para o elétrico pode ser bom para a propaganda, mas ruim para o bolso do trabalhador.
Olha, pode até valer, mas só se três condições baterem:
O problema é que hoje as taxas dos financiamentos de motocicletas ultrapassam 40% a.a. ao ano. Se o “especial” for só um nome bonito, o entregador vai trocar a moto velha pelo boleto atrasado.
Eles já têm o Pronaf, que financia motos utilitárias com condições melhores. Se o programa novo vai valer para eles também? Até agora, ninguém do governo tocou no assunto, mais uma vez: falta clareza.
No fim, pode compensar para alguns. Mas para muitos, a moto a combustão segue sendo a escolha mais lógica.
Dezembro e janeiro, quando a concessionária precisa bater meta e joga os descontos na mesa. Mas, com esse programa do governo, pode aparecer pressão extra para empurrar moto elétrica em qualquer época do ano. E aí, cuidado para não cair em “promoção” que só muda o adesivo, mas a parcela continua do mesmo tamanho.
Por enquanto, a elétrica é o iPhone do mundo das motos: bonita, moderna, mas quase o dobro do preço.
Tipo: Scooter elétrica
Potência: 2.000W (cerca de 2,7 cv)
Velocidade máxima: 59 km/h
Autonomia: até 80 km
Bateria: não removível
Fabricante: Shineray (produção no Brasil)
A Shineray SE3 é uma das opções mais acessíveis de scooter elétrica no mercado nacional.
Tipo: Scooter elétrica
Potência: até 4.500W (aprox. 6,1 cv)
Velocidade máxima: 75 km/h
Autonomia: 100 km (uma bateria); 180 km (duas baterias)
Baterias: removíveis
Fabricante: Voltz
Possibilidade de usar duas baterias, o que pode elevar a autonomia para até 180 km.
Tipo: Scooter elétrica
Potência: 3.000W (cerca de 4 cv)
Velocidade máxima: 70 km/h
Autonomia: 60 km (120 km com duas baterias)
Baterias: removíveis
Fabricante: Watts
É mais compacta e chama atenção pelo visual.
Tipo: Moto elétrica estilo street
Potência: 3.000W (aprox. 4 cv)
Velocidade máxima: 75,5 km/h
Autonomia: 80 km (por bateria removível)
Bateria: removível
Fabricante: Shinera
Bem parecida com as motos streets.
Tipo: Moto elétrica estilo street
Potência: 7.000W (cerca de 9,5 cv)
Velocidade máxima: 120 km/h
Autonomia: 120 km (uma bateria); 180 km (duas baterias)
Baterias: removíveis
Fabricante: Voltz
A mais rápida e potente entre todas.
O programa pode até ajudar muita gente a sair da moto que vive pedindo arrego. Mas não caia no conto do “crédito fácil”. Crédito barato não é crédito grátis.
Antes de assinar qualquer contrato, faça a conta: quanto vai rodar? Quanto vai economizar? E por fim, se a parcela cabe no bolso sem transformar o fim do mês em pesadelo.
Seja moto elétrica, a combustão ou até usada: o que importa é que a escolha não te prenda no banco. Ou seja, o anúncio tem cheiro de campanha política… Na prática, pode até ajudar, mas também pode virar só mais um programa “de vitrine”, lindo no jornal, complicado na prática. E lembre-se: não existe moto grátis. Existe uma parcela, e ela não falha.